Diálogo: como assim?

Arte: Banksy
Desde que o mundo é mundo, seres se comunicam. Cada um à sua maneira e a cada época, de uma determinada forma.
Hoje, o questionamento vindo depois de um comportamento instalado de como as pessoas estão se comunicando e viciadas nos apps de relacionamento, de grupos familiares, trabalho e/ou amizade, mal olham onde estão e com quem, porque passam horas olhando para suas telas de celulares e tablets, tirando fotos e filmando com eles ao invés de apreciarem o entorno, nos faz pensar em como chegamos até aqui com as formas de diálogo e onde vamos parar. A questão é - não vamos parar.
Tudo parece uma evolução, mas as crônicas, artigos, matérias televisivas e o bate papo entre os mais velhos, mas não tão velhos assim, trazem a reflexão de que não parece que evoluímos no quesito “diálogo”. A globalização, tão comentada na década de 90, por si não demonstrava, claramente, o impacto das mudanças de cultura, comportamento e conceitos. Tinha-se uma ideia, porém diante de novas descobertas diárias a evolução da tecnologia se mostra absurdamente sem limites, portanto não há como prever que outras mudanças mais sofreremos, até chegarmos ao estilo de vida dos Jetsons.
Quem nasceu de 1985 para cá, talvez não faça ideia do que estou escrevendo como para alguns de nós o Telex ou o Fax são objetos “do século passado” – e são (!). Outro dia, um rapaz disse “Como assim uma empresa ainda tem fax? Nem sei como liga isso!” A nossa tem. Existe desde a fundação e não quebrou, funciona. E os Jetsons mesmo depois do advento da Peppa, continuam os mais avançados e intrigantes, charmosos.
Se a base da população mundial é formada por bebês, crianças, adolescentes e jovens cujos pais ficam encantados que seus filhos, com um ano de idade, já sabem ligar e desligar os aparelhos eletrônicos, buscar fotos, filminhos e darem sossego aos mesmos pais cansados dessa vida maluca, desenfreada de formas de comunicação e informação em tempo real, que substituíram a televisão em casa, pelos eletrônicos usados, também, em casa e no restaurante, shopping, parque, casa da vovó, piscina, banheiro..., porque reclamam que seus filhos não conversam com eles, que não têm acesso à vida deles, o que querem, pensam, gostam, desejam e defendem como interesse de vida e de futuro? Irmãos adolescentes se comunicam, entre si e dentro da mesma casa, por horas pelo Whatsapp, sem trocar uma palavra ou um olhar. E esta é a forma de diálogo. Deles. E dos demais? Também. E “a gente” critica. E o que a gente faz? O mesmo.
O diálogo escrito, desde o tempo das cavernas que deixava marcas e contava histórias, pode ser mais profundo, transparente, desavergonhado no sentido que falar olhando no olho pode-se não ter coragem de dizer tudo que pensa, o que pode ser bom no mais das vezes. Porém, há pessoas que escrevem aquilo que jamais deveria ser dito, como assim escrever?! Grosseria, agressividade, impetuosidade que demonstram temperamento e educação aliados, deselegantemente exponenciados. Um horror até. Educação vem de berço, com pais conversando e olhando para as crianças e não via celular ou dando tablet para que elas parem de berrar.
O diálogo, na forma que for, é a base de qualquer relacionamento. Disso não se pode duvidar! O que mascara parecer ser fácil se relacionar e ter muitos amigos pelas redes sociais e aplicativos, na verdade, torna-se uma armadilha na percepção de valores, network, quantidade/qualidade, conteúdo, conceitos, praticidade, realidade/fantasia, compromisso e descaso, entre tantas outras atitudes que poderíamos listar.
O olho no olho ainda faz total diferença, as máscaras caem, a verdade ou mesmo a mentira é latente, o medo, a surpresa, a insegurança ou a altivez são nobres de serem vistas e vividas. As personagens vão até onde quem as vê permite. Os julgamentos tendem a ser mais precisos e, por julgamentos, entenda-se “eu acho que”, “penso”, “sinto”, "vejo".
Conversar com adolescentes sisudos e abrir o jogo da vida, de verdade, a eles, traz o sorriso e as palavras minutos ou horas depois. Tão rico isso! Conversar com os mais velhos traz a história que não vivemos, ou a que vivemos e nem lembramos; conversar com os colegas do trabalho nos faz conhecer quem está ali todos os dias e pode ser tão igual, ou tão diferente, da gente e que bom ou que péssimo é isso – e tudo bem ser bom ou mal, faz parte. Conversar com o chefe ou o subordinado favorece o entendimento e o poder criativo, com o cliente saber o próximo passo da venda, com alguém no elevador, do sorriso à risada, ou este alguém também não está bem como eu. E dialogar com o espelho com seu rosto refletido? Que será que vai aparecer? Como assim??