Ideias exóticas viram item de colecionador

Você pagaria por uma lata de ar? Compraria de uma empresa chamada Bosta em Lata? Ou, ainda, contrataria um goleiro de aluguel para a pelada de domingo? Pois saiba que esses negócios existem e, mais do que isso, faturam bem. “Confesso que num primeiro momento as pessoas não entendem que se trata de um souvenir e que o ar que está lá dentro não é o descrito na composição”, diz Alessandro Catenaci, dono da Lata de Ar.
A empresa nasceu em 2013, em Curitiba, com a proposta de oferecer uma lembrança diferente aos turistas durante a Copa do Mundo. Faz parte do programa Sou Curitiba, promovido pelo Sebrae-PR.
“Há vinte anos viajei à Europa e vi algo parecido, fiquei com a ideia na cabeça com a chegada do mundial decidi por em prática", conta Catenaci. “Investi R$ 15 mil na fabricação das primeiras 3 mil latas". As clássicas embalagens de sardinha, comuns nos supermercados, ganharam uma decoração especial, temática. Durante a Copa foram comercializadas 15 mil unidades a um preço médio R$ 12. O negócio vingou. Na Olimpíada Rio 2016, já ofertava o ar de 13 cidades brasileiras, além do ar do Brasil e de Nova York, distribuídos em mais de 65 pontos. O faturamento mensal de R$ 100 mil tende a crescer não só com a ampliação dos pontos de venda mas porque a latas viraram itens de colecionador, segundo o empresário.
Mais ousado foi o empresário Leonardo de Matos, um vendedor nato que acabou acumulando uma dívida de R$ 1 milhão em 2012, quando era dono de uma confecção de moda masculina. Não foram poucas as vezes, contudo, que ele ouviu de clientes a seguinte afirmativa “Leo, se deixarem, você vende até bosta em lata”. E por que não? Ele gostou de ideia e, no início desse ano, começou a comercializar pela internet um adubo orgânico para uso doméstico batizado de Bosta em Lata. O diferencial está na embalagem - uma lata de 500 gramas que facilita o manuseio, diferentemente dos sacos plásticos usados até então. Já vendeu 1.200 unidades, a R$ 19,90 cada, e até foi premiado.
Com boa experiência no mercado de marketing olfativo, os sócios Renato Rodomyster e Rafael Nascer encomendaram uma pesquisa e confirmaram o que imaginavam: quando se trata de higiene pessoal, não há nada mais desagradável do que cheiro de cocô. Resultado apurado, partiram para o desenvolvimento de um produto único, um bloqueador de odores sanitários. Basta borrifar cinco vezes em direção à água do vaso sanitário antes de usá-lo que o mau cheiro não aparecerá, garantem os sócios. A dupla investiu R$ 2 milhões em desenvolvimento e marketing. A FreeCô chegou ao mercado no final de 2014, com uma única embalagem de 60ml com essência capim-limão. “Nosso maior desafio é educar o consumidor e convencer o varejo a investir em uma categoria nova de produto", diz Rodomyster. “O trabalho é longo mas já começou a dar resultados". A startup faturou R$ 6 milhões em 2015 e este ano com o lançamento de uma nova embalagem de 140ml (250 usos) e a nova fragrância de especiarias, espera alcançar R$ 8 milhões.
Embora se pautem no exotismo e contem com o bom humor do consumidor brasileiro, que adora uma proposta fora da curva, negócios com esse perfil exigem cuidado maior em relação ao marketing e à gestão, adverte a consultora Ana Vecchi da Vecchi e Ancona Consulting, “É preciso compor muito bem a comunicação porque os consumidores mais sérios podem achar que se trata de uma brincadeira”, afirma. “Só um planejamento muito alinhado ajudará a sinalizar por quanto tempo o nome divertido ou a proposta inusitada conseguirão pagar as contas e gerar lucro”. Ela afirma que na hora de escolher o nome é essencial levar em conta se em um futuro próximo, ele fará sentido e despertará o mesmo interesse.
Muitas vezes o exotismo não vem do nome, mas do serviço oferecido. Goleiro por opção, Samuel Toaldo sempre teve lugar no time da pelada, afinal todo mundo quer fazer gol e não levar. “O povo fazia questão de me pegar em casa e até topava pagar R$ 30 pelas partidas”, lembra o empresário. “Quando eu não consegui mais dar conta da agenda sozinho, comecei a fazer um cadastro de goleiros amigos, dispostos a faturar esse valor por partida”; No final de 2014, com o cadastro robusto, a agenda virou negócio, com um mercado grande a ser explorado. Para se ter uma ideia, no Brasil há mais de um milhão de jogos por mês em quadras de aluguel e pesquisas revelam que, em 70% deles, faltam goleiros.
Toaldo mirou esse universo. Hoje, tem mais de 6 mil goleiros cadastrados, 700 partidas mensais e acaba de lançar um aplicativo para aproximar goleiros e peladeiros. Os atletas amadores ganham uma parte do pagamento, a empresa Goleiros de Aluguel outra. A meta é fechar este ano com mil partidas mensais e somar em 2017 um faturamento de R$ 850 mil.